Entrevistas

Entrevista com o autor de Nós, os afogados

Recentemente, o autor de Nós, os afogados (Carsten Jensen), lançamento da editora Tordesilhas.
Confira a entrevista (fiz uma tradução, mas se seu inglês anda em dia: link da entrevista na Amazon.com):
Amazon: Nós, os afogados tornou-se uma sensação internacional. Você está surpreso com o resultado?

Carsten Jensen: Eu já tinha trabalhado por muitos anos, quando minha prima me fez uma pergunta bastante curiosa: Esse livro vai interessar a alguém que é de fora da nossa pequena ilha? Eu respondi que esperava que sim, mas de forma alguma eu poderia saber. Eu fiz tudo o que podia para trazer aspectos universais para uma pequena cidade marítima, uma ilha esquecida num canto remoto do Báltico. Mas eu tenho que admitir que é uma história muito local, é o que me intrigava de certa forma. Esse encontro entre o local e o global. Pois o marinheiro é alguém que vai a todo canto. O marinheiro é uma figura universal. Escrever um romance é sempre um risco, você nunca sabe se vai agradar ou não. O marinheiro em muitas situações, navega rumo ao desconhecido, o escritor também.

A: Como foi escrever sobre navegações, o fascínio pelo mar que atraí tantos homens, como foi escrever sobre isso?

C.J: Um fazendeiro em uma comunidade agrícola não é atraído para o solo. Ele não teve escolha, assim como os marinheiros de Marstal. Esse foi o único sustento disponível pra eles. A única escolha foi escolher entre Seagull ou Albatros. Não havia nada de romântico nisso. Depois que o livro foi publicado, fui convidado a tomar um café com o almirante da marinha dinamarquesa, Niels Vang, que acabou se tornando grande fã do livro. As únicas pessoas que trabalham sob as mesmas condições como os marinheiros do meu livro, são os soldados. Eles são os únicos que são confrontados com a possibilidade de morrer em serviço.

A: Você chamou o marinheiro de antepassado da globalização. Você, como jornalista, como se relaciona com o marinheiro?

C.J: Quando o marinheiro voltou para sua cidade natal, ele sabe algo que os agricultores nunca souberam: que havia mais do que uma maneira de fazer as coisas. O fazendeiro pensa que é o centro do mundo, enquanto o marinheiro sabe que não é. Eu acho essa compreensão muito saudável.

A: Como foram suas pesquisas para o romance? É um romance que se estende por 100 anos e em váriosoceanos?

C.J: Eu fiz muitas pesquisas para o livro, mas também fiz muitas coisas além. Eu ajudei um museu dos marinheiros de Marstal, um lugar totalmente caseiro, muito excêntrico. Eles tem um arquivo incrível e quando mergulhei nele. Percebi também que os últimos 20/30 anos, metade dos habitantes de Marstal tem feito muitas pesquisas. Juntamente com uma biblioteca pública local, organizei uma série de reuniões onde eu lia o meu trabalho e explicava minhas ideias. A população de Marstal se mostrou muito curiosa, apareciam em grande número para me auxiliar. Fiz um acordo com eles: eu lhes daria o livro quando finalizado sobre a cidade, mas necessitava da ajuda deles. Fui convidado para suas casas, sentei em seus sofás, tomei muitos cafés e me foram apresentadas cartas antigas, diários e memórias inéditas que eram destinadas apenas as pessoas mais íntimas. Todos esses momentos serviram de grande inspiração pra mim. A cidade toda acabou sentindo que o livro era deles também, tanto quanto meu. Quando o publiquei, muitos moradores me disseram que o livro tornou-se filhos deles. Mas eu disse: vocês não podem tê-lo, pois fui eu que fiz. Eu estava inspirado neles, mas muitos já não podiam distinguir a realidade da ficção.

A: Nós, os afogados foi escrito na primeira pessoa do plural, como se fosse uma consciência coletiva do povo de Marstal. Por que escolheu escrever o livro dessa maneira?
C.J: O “nós” representa a memória coletiva da cidade, mas nem todo mundo está incluído. É a memória dos homens, já que a vida dos homens e das mulheres são muito diferentes em uma comunidade marítima. As mulheres têm sua própria história, são separadas das dos homens.
Em “nós” há uma espécie de coro grego, sempre comentando e apresentando. Parece que tudo sabe, mas como ele pode conhecer as coisas mais íntimas que acontecem entre as pessoas? Ou seja, significa que nem sempre é confiável. O que não se sabe em uma pequena comunidade pode ser inventado ou se tratar de uma fofoca. A fofoca é parte essencial das vidas das pessoas e é isso que eu quis tratar no meu livro. Ele está cheio de histórias reais, ficção e muita fofoca. Pois é assim que o mundo funciona.


 
Nós, os afogados

ISBN-13: 9788584190225
ISBN-10: 8584190228
Ano: 2015 / Páginas: 696
Idioma: português
Editora: Tordesilhas

Nós, os afogados – Com uma voz narrativa épica e poderosa, Nós, os afogados é uma saga que nos remete às epopeias marítimas de Herman Melville e Robert Louis Stevenson. Compreendendo cem anos de história, o livro acompanha várias gerações de navegadores da cidade dinamarquesa de Marstal – de Samoa à Terra Nova, de Cingapura a Hobart, de Murmansk à Islândia e de volta a Marstal, onde as mulheres esperam e choram seus mortos. Elogio solene a um modo de vida que ficou para trás e relato comovente dos sofrimentos humanos, o livro é também a descrição crua de uma época em que a Europa passa por grandes transformações – e suas histórias de amor são um contraponto sensível ao insuperável afã do homem em conquistar o desconhecido.

 

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Aymée Meira
Aymée, mas pode me chamar de Amy. Adora um bom café, filmes (já perdi a conta de quantos vi) e livros dos mais diversos gêneros, incluindo eles Stephen King, Agatha Christie, Joe Hill, Harlan Coben e Tess Gerritsen.

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1 Comentário

  1. eu achei muito legal a ideia desse livro, desde da primeira propaganda, mas adorei a entrevista com o autor e saber como ele fez para levantar os dados para escrever a história, trabalhar no museu? o livro é um relato histórico
    bjs

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