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Star Wars: Os Últimos Jedi continua a estrutura narrativa criada por Joseph Campbell há décadas atrás

*Artigo escrito pelo cineasta Daniel Bydlowski e publicado no jornal A Tarde

Sempre que o nome Star Wars aparece, em filmes, brinquedos ou até em jogos de videogame, há um estrondoso sucesso, mesmo quando fãs não aprovam o produto. Isto não somente garantiu a longevidade da mais famosa franquia do mundo, mas também a possibilidade de arriscar no enredo e nos efeitos especiais, o que sempre deu à produção seu caráter único e inovador. O mesmo pode-se ver em Star Wars: Os Últimos Jedi.

Mas, como esta antologia de filmes conseguiu criar tanta empolgação por tanto tempo? A resposta vem da época em que George Lucas, criador do universo do filme, tinha acabado de criar um outro filme que o colocaria no mapa: American Graffiti, de 1973.  Sempre preocupado em entender a estrutura narrativa básica de uma história, George Lucas começou a ver suas próprias criações como resultado de uma mitologia maior, que englobaria desde antigos folclores até contos modernos.

Mas não foi Lucas quem primeiro observou esta estrutura ancestral de contos mitológicos. Ao contrário, sua visão foi fortemente influenciada pelo escritor e mitologista americano Joseph Campbell, que teorizou sobre o arquétipo de herói em O Herói de Mil Faces, livro de 1949 que mostra todas as etapas que um personagem precisa caminhar para que sua história seja bem-sucedida. Além disso, de acordo com Campbell, este arquétipo é parte de todas as culturas humanas, o que faz com que todas as mitologias da história tenham uma estrutura comum.

Se isto for verdade, tal estrutura é muito poderosa e pode criar contos marcantes. E foram nestas ideias que George Lucas se apoiou para criar Star Wars, onde seus personagens principais, seus relacionamentos com suas famílias, amigos e mestres, e até mesmo a famosa “força”, a energia invisível que dá poder aos personagens, são criadas a partir das ideias de Campbell.

O resultado foi tão forte que Star Wars se tornou, e ainda é, o filme independente mais bem-sucedido de todos os tempos – um que compete, facilmente, com qualquer filme de estúdio (antes da franquia ter sido vendida para a Disney). E se adicionarmos a esta estrutura o fato de que Lucas decidiu iniciar a franquia de forma não linear, começando no quarto episódio, a fórmula de sucesso é garantida. Afinal, depois de se identificar tanto com o enredo e os personagens que ganharam vida nos anos 70, quem não gostaria de ver os primeiros episódios, que vieram 20 anos depois da estreia da série, e também a continuação, apresentada em 2015?

Mesmo assim, o sucesso veio com altos e baixos. Preocupado com a inovação do cinema em geral, que caminhava para a revolução digital, Lucas deu atenção para efeitos especiais e técnicas cinematográficas inovadoras nos primeiros episódios que começaram em 1999, ao mesmo tempo que fãs viram muitos problemas no enredo. Porém, enquanto tais impasses parecem ter sido solucionados quando a Disney começou a produzir as continuações em 2015, as inovações tecnológicas (tão características de Star Wars) desapareceram, quase sendo um remake dos filmes antigos (e os fãs, sempre esperando um filme com o glamour dos originais, agradecem).

Star Wars: Os Últimos Jedi será um sucesso: ele continua a estrutura mitológica que deu ao conjunto sua fama, com personagens queridos e universos que todos podemos identificar. Porém, seu caráter inovador esta longe daquele esperado por Lucas. Mesmo assim, isto não será um problema em um enredo fortemente influenciado pelas ideias de Campbell.


Daniel Bydlowski é cineasta brasileiro e artista de realidade virtual com Masters of Fine Arts pela University of Southern California e doutorando na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. É membro do Directors Guild of America. Trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica como Mark Jonathan Harris e Marsha Kinder em projetos com temas sociais importantes. Seu filme NanoEden, primeiro longa em realidade virtual em 3D, estreia em breve.

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Aymée Meira
Aymée, mas pode me chamar de Amy. Adora um bom café, filmes (já perdi a conta de quantos vi) e livros dos mais diversos gêneros, incluindo eles Stephen King, Agatha Christie, Joe Hill, Harlan Coben e Tess Gerritsen.

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